Friday, December 21, 2007

Entrar nos EUA (clandestinamente) é uma aventura de 15 dias

http://www.prsc.mpf.gov.br/noticias/clipping%20HTML/2004/Janeiro/29janeiro.htm#Entrar

A Notícia - Geral (página A9).

Entrar nos EUA é uma aventura de 15 dias
Viagem inclui caminhadas na madrugada, travessia de rios com barcos e
requer dose extra de sorte

Criciúma ­ Chegar aos Estados Unidos, ilegalmente, pela fronteira
mexicana, é uma "literalmente" aventura que dura 15 dias e custa US$
7,5 mil, segundo um agenciador dessas viagens que do Sul de Santa
Catarina mantém uma rede de apoio e estrutura para que o objetivo seja
atingido. Por motivos óbvios, o "agenciador de imigrantes ilegais",
como define a Polícia Federal, não se identifica, mas não esconde
nenhum dos passos a que se submete quem quer tentar a sorte na terra
do Tio Sam. J.T., 36 anos, iniciou as viagens em abril de 2002 e
contabiliza mais de 100 esperançosos brasileiros levados. Desse total,
estima, menos de 30 foram pegos pelo serviço de imigração americano. A
maioria, contudo, na segunda tentativa atingiu o objetivo.
"Ir para os Estados Unidos é um sonho que muita gente tem e garantimos
a entrega do passageiro no local combinado. Pegamos ele em casa, no
Brasil, e entregamos onde for combinado", conta o agenciador, que fez
duas vezes o trajeto para garantir seu green card - documento que lhe
garante a livre entrada nos EUA. "Mas prefiro ficar aqui, vou no
máximo até o México", conta. No Sul de Santa Catarina, além de
agenciar as viagens, mantém um estabelecimento comercial, iniciado com
dinheiro que ganhou trabalhando no exterior e levando brasileiros para
os Estados Unidos. "Passageiros", como define, do Sul de Santa
Catarina ele não faz questão de levar, preferindo a clientela de Minas
Gerais e Mato Grosso.
No preço cobrado, segundo ele o mais caro no Sul de Santa Catarina,
porém o mais acessível em Minas Gerais e Mato Grosso, garante todas as
despesas necessárias, incluindo passagens aéreas, transporte terrestre
no México e nos Estados Unidos, alimentação e estadia em residências e
hotéis nos dois países. "Às vezes somos obrigados até a vestir o
passageiro. Alguns são agricultores, chegam em São Paulo com a roupa
que usavam para trabalhar na roça e a gente é obrigado a dar um banho
de shopping no cara para não chamar a atenção, afinal, o embarque é em
um aeroporto internacional, onde 50% dos US$ 7,5 mil devem ser pagos",
comenta o agenciador.
Os grupos são de no mínimo dois e no máximo seis pessoas. "Mais do que
isso é complicado, mas em Minas Gerais tem gente que faz grupo de até
40 pessoas, o que é perigoso", diz. Cada passageiro rende um lucro de
US$ 1,5 mil a US$ 2 mil. "Dependendo da despesa que o grupo dá,
principalmente de gasto com telefone", observa.
A primeira parte da viagem é muito tranqüila, apesar de poder se
tornar longa, dependendo da conexão de vôos. As empresas brasileiras e
mexicanas, que fazem vôos diretos, gastam cerca de 9 horas entre São
Paulo e Cidade do México, mas se forem utilizadas outras empresas a
viagem pode chegar até 16 horas, com escalas no Chile ou Colômbia. O
segundo trecho, em território mexicano, também não apresenta riscos
graças ao "acerto" com o serviço de imigração, que cobra cerca de US$
700,00, por passageiros, para "permitir" a entrada do passageiro no
país. "Quem acha que o Brasil é um país de corruptos precisa conhecer
a polícia e a burocracia mexicana. Somos uns anjinhos", brinca o
agenciador. "Como a corrupção é grande, o pagamento só é feito no
momento em que o pessoal embarca em uma van, fora do aeroporto e vai
para uma casa que temos na Cidade do México", acrescenta.

"A corrupção é muito grande no México. É ali que o filho chora e a mãe
não vê"
O grau de dificuldades da aventura começa a aumentar quando o grupo de
passageiros deixa a casa mantida na Cidade do México, distante 1,2 mil
quilômetros da fronteira com o Texas. Os brasileiros levados pelo
agenciador catarinense, que dificilmente deixa o território nacional
para monitorar cada operação, viajam entre mercadores que são
transportadas do México para os Estados Unidos e são necessários, no
mínimo, 12 horas para chegar em uma das cidades mexicanas na fronteira
americana. É nesse ponto que se testa, efetivamente, pela primeira vez
a sorte de quem pretende chegar aos EUA.
"Como a corrupção é muito grande, no México o que acontece é o cara,
se pego, ficar sem dinheiro e ser deportado dali mesmo. É ali que o
filho chora e a mãe não vê. Nos Estados Unidos, pelo menos, há um
processo legal antes da deportação e a polícia não toma o dinheiro de
quem tem algum", relata, impressionado com a exposição do assunto na
mídia sobre o retorno dos 262 brasileiros, que chegaram ontem ao País.
"A quantidade de brasileiros deportados do México é várias vezes maior
do que dos Estados Unidos. Todo dia tem gente sendo deportada pela
imigração mexicana", testemunha.
Depois de mais de mil quilômetros dentro de um caminhão, que às vezes
não pára nem para que as pessoas se alimentem, os passageiros são
hospedados em um hotel, onde entra em operação a terceira equipe do
esquema. "Esse pessoal apenas faz a travessia pelo rio Bravo e conduz
o grupo até um hotel no lado americano, no Texas."
O desafio maior de todo o trajeto é despistar os check points da
imigração americana. Entre o hotel em que ficam hospedados no Texas e
a vigilância policial há uma viagem de 40 minutos. "Cinco quilômetros
antes o grupo, acompanhado de guias, entra no matagal e caminha cerca
de 12 quilômetros e encontra novamente o mesmo carro a cinco
quilômetros do check point", afirma o agenciador, ressaltando que essa
operação precisa ser feita durante a madrugada, o que torna a operação
mais desafiadora. Ao retornar ao carro que transporta o grupo os
passageiros pagam os outros 50% do valor combinado pelo serviço. Desse
ponto são levados para Houston, Dallas ou Santo Antônio, penúltima
parada antes do destino final, que normalmente é Boston, que fica a
cerca de quatro mil quilômetros, ou quase 40 horas de viagem em uma
van. A partir desse ponto a possibilidade de ser flagrado pelo serviço
de imigração, conforme o agenciador, cai para 2%. (GF)

Imigrantes fazem trabalhos rejeitado pelos americanos
Quem tem sucesso e não é pego pelas autoridades americanas,
normalmente, consegue trabalhos dos mais variados e que, normalmente,
os sobrinhos do Tio Sam não querem executar. O agenciador, por
exemplo, nos quase seis anos que ficou na sua primeira estada nos EUA
foi faxineiro em um hospital de idosos, motorista e lavador de pratos
em uma rede de sorveterias. "Comecei lavando pratos, mas cheguei a
gerente da loja", lembra. Ele cruzou a fronteira mexicana em junho de
1988 e retornou ao Brasil em 1994 com o green card no bolso.
Com as economias que trouxe, abriu um estabelecimento comercial no
Sul, mas não suportou os altos e baixos do cenário econômico do País.
Depois de falir, foi trabalhar como motorista, até maio de 2001,
quando decidiu retornar aos Estados Unidos, pois precisava renovar o
seu processo para ter definitivamente o green card. "O prazo estava
vencido e havia perdido o cartão. Tive que voltar novamente pelo
México", recorda. Ficou até março de 2002 no país, já fazendo o
agenciamento, até que decidiu retornar ao Brasil e fazer a contratação
de "passageiros" e monitoramento das viagens a partir de Santa Catarina.
Seus principais clientes estão entre Mato Grosso e Minas Gerais. Do
Mato Grosso surgem os casos mais pitorescos. De uma cidade de sete mil
habitantes, um fazendeiro, além de criar gado, fatura alto emprestando
dinheiro para quem quer deixar o país. Só que não entrega dinheiro,
mas vacas, que são revendidas pelos interessados. O prazo para
ressarcimento é de um ano. O fazendeiro tem mais de R$ 800 mil para
receber. "E tem certeza que recebe", afiança o agenciador. (GF)

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