Friday, December 21, 2007

Peter Singer e a polemica sobre a bestialidade

Peter Singer e a polemica sobre a bestialidade

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Peter Singer foi autor do livro "Animal Liberation", que foi um marco
na história da defesa dos animais. Mas agora ele parece ter
perdido de vez o seu posto de patrono dos direitos dos animais.

Ele escreveu um artigo na revista Nerve falando sobre sexo entre
humanos e animais. Isso causou grande ultraje entre os defensores de
animais e serviu de munição para os inimigos dos animais, bem como
para os inimigos de Singer.

Singer descreveu com muitos detalhes os casos de contato sexual entre
humanos e animais, sendo por vezes bastante explícito e recorrendo
ao uso de palavrões chauvinistas para se referir ao órgão
sexual feminino. Mas o que causou maior indignação foi o fato de
ele se omitir de condenar a bestialidade.

Do início para o meio do texto, se pode observar que ele procura
descartar os tabus da sexualidade como meras probições religiosas
sem qualquer fundamento, dizendo "um por um, os tabus têm
caído". Depois ele diz "[na tradição Judaico-Cristã e um
tanto menos no Oriente], temos sempre nos considerado como
distintos dos animais ... Só os humanos são feitos à imagem
de Deus e têm uma alma imortal...." e continua nessa linha,
atacando o senso de que humanos devam ter consideração
especial em relação aos outros animais.

No artigo, ele se omitiu de condenar a bestialidade e ainda por
cima, encorajou essa pratica dizendo o seguinte: "Mas o sexo com
animais nem sempre envolve crueldade. Quem já não viu, em uma
ocasião social, o cachorro do anfitrião segurando a perna de
uma visita e esfregando seu pênis vigorosamente contra ela ?
O anfitrião normalmente desencoraja tais atividades, mas, em
privado, não é todo mundo que faz objeção ao ser usado pelo
cão dessa forma, e ocasionalmente, pode ocorrer mútua
satisfação nessa atividade."

E finaliza o artigo dizendo o seguinte: "Isso não torna o sexo
entre as espécies uma coisa normal ou natural, qualquer que
seja o significado atribuído à essas palavras tão mal
empregadas, mas implica que o sexo entre as espécies deixa
de ser uma ofensa ao nosso status e dignidade como seres
humanos." Só que ele faz essa suposição sem dar a menor
justificativa, sem apresentar nenhum argumento válido como
se esperaria de um filósofo.

Há uma página inteira de críticas de várias pessoas
conhecidas pela defesa dos animais
(http://www.asairs.com/singer.html). Só Ingrid
Newkirk, presidente do PETA, saiu em defesa de Singer
dizendo "isso parece mais uma tentativa de abordar o
assunto com um foco estreito e não-intelectual. Nós
sabemos que Peter Singer é um intelectual e ele
procura ver um assunto em todas as suas nuances."

Pela presidente do PETA, um intelectual tem licença para agir
irresponsavelmente tentando demolir tabus cuja razão de ser ele
tenta desprezar só porque foram fundados na tradição
Judaico-Cristã.

Em sua carta-resposta aos protestos que se seguiram após o artigo,
Singer diz que não é a favor de tais práticas. Ele disse que
quis apenas refletir quanto à justificação da bestialidade
quando ela é "benigna", isto é, quando ambos animal e humano
estão buscando prazer sexual, e quando a atividade não causa
sofrimento físico ou psicológico. Parece que ele apenas se
propôs a agir unicamente como filósofo e não como defensor
de animais.

Deixando de lado as convenções, Singer apenas questionou qual
seria a objeção que existe ao sexo entre humanos e animais quando
isso não envolve crueldade. Ele suspendeu seu julgamento baseado
no senso comum e tentou procurar uma motivação "puramente
racional" para a condenação à bestialidade "benigna".

Esse modo de pensar ignorando o chamado "bom senso", ou senso
comum, com relação às questões polêmicas é típico
de Singer. Ele é conhecido e detestado por muitas pessoas
pelas suas idéias a respeito da eutanásia. Segundo ele, há
seres humanos para os quais a vida não vale a pena ser
vivida: os bebês com problemas de formação.

Peter propõe a eutanásia ou o aborto para esses bebês à
guisa de impedir seu futuro sofrimento. E contra isso se
levantam as entidades dos deficientes físicos e grupos
pró-vida, que o consideram como nazista e defensor da eugenia.

Da mesma forma que a eutanásia e aborto dos seres humanos
deficientes físicos é aceitável e até recomendável em
seu ponto de vista, Peter Singer considera que não há
motivos contra a bestialidade se ela for sem sofrimento e
consentida pelo animal. Ou seja, para ele, não haveria nada
contra esse tipo de bestialidade do ponto de vista do bem
estar do animal.

Certamente que o tabu contra a bestialidade é, em grande parte,
devido à tradição Judaico-Cristã. Vejamos:

"Todo aquele que se deitar com animal, certamente morrerá."
(Êxo 22:19)
"Nem te deitarás com um animal, para te contaminares com ele:
nem a mulher se porá perante um animal, para ajuntar-se com ele;
confusão é." (Lev 18:23)
"Quando também um homem se deitar com um animal, certamente
morrerá; e matareis o animal. Também a mulher que se chegar a
algum animal, para ter ajuntamento com ele, aquela mulher
matarás com o animal; certamente morrerão; o seu sangue é
sobre eles." (Lev 20:15-16)

Podemos ver que a proibição está muito distante de ser uma
preocupação com o bem-estar animal. É uma preocupação com os
humanos. A bestialidade pode ser aceitável do ponto de vista
do animal, mas certamente é inaceitável para humanos. E por
quê ?

Seguindo o modismo atual, Peter Singer nivela humanos e animais em um
mesmo plano moral. Para usar o mesmo paradigma das campanhas contra o
racismo, ele formulou o conceito de "especiesismo", ou seja,
um "racismo" entre humanos e animais.

Infelizmente, esse conceito-fantasma de "especiesismo" serve apenas
como artifício político para Singer condenar quem coloca
humanos e animais em planos morais diferentes. Os cristãos têm
um conceito muito superior ao do especiesismo pois explicam os
maus tratos aos animais como falta de compaixão e por maldade.

Para os religiosos a "superioridade" humana ainda vale e a
bestialidade é algo que avilta os humanos. E mesmo com o
alegado "especiesismo" dos cristãos, ainda haverá justiça no
tratamento dos animais se a compaixão cristã for praticada
integralmente.

Dessa forma, o conceito de especiesismo fica demonstrado como
moralmente nocivo e reduzido ao que ele realmente é: apenas um
artifício de retórica. Ele supostamente seria usado a favor dos
animais, mas nada mais é do que um artifício de acusação com
conseqüências indesejáveis para a causa dos animais.

Singer não reconhece que humanos estejam em um plano moral
superior, pois para ele isso é apenas uma "fantasia religiosa".
Também existem ateus que se ultrajam com essa condescendência
aparente com a bestialidade. Mas nem Singer e nem os demais
ateus souberam explicar o porquê da bestialidade sem crueldade
ser condenável e merecer um tabu.

Os religiosos podem justificar a objeção à todas as formas de
bestialidade, "benignas" ou não, alegando que os humanos estão
em um plano moral superior. E isso seria devido ao universo ter
sido criado para os humanos por decisão do Criador, em vez de
ser mera obra do acaso. A concepção materialista nivela humanos
e animais, enquanto a visão teísta situa os humanos e animais
dentro de uma hierarquia.

A bestialidade "benigna" é ruim para os animais ? Aparentemente
não, se o ato só causar prazer. É contra a vontade do
animal ? O animal consente com o ato da maneira mais
evidente: um cachorro estará mais do que satisfeito em
aliviar sua pressão reprodutiva, mesmo que seja na perna
de um humano.

Então, para os materialistas qual seria a objeção ? Nenhuma,
não sabem qual é porque seu horizonte é limitado pela
matéria. A eles falta a ferramenta conceitual necessária para
reconhecer na bestialidade um mal. A maioria se preocupa
mesmo é em atacar coisas que eles não entendem e imaginam
que seu intelecto é tão poderoso a ponto de poder se
desfazer das tradições que vêm guiando a humanidade
civilizada com sucesso há milênios, como os tabus contra
a bestialidade, contra o estupro, contra a escravidão,
contra o roubo, contra os maus tratos aos indefesos, a
barbárie e inúmeros outros tabus que as pessoas nem se
dão conta.

O materialismo fracassa em oferecer uma explicação para isso já
que exclui qualquer possibilidade de que um Criador exista e
seja a origem dos princípios morais e rejeitam que na natureza
exista uma hierarquia onde o ser humano está no topo. Na
verdade, o "foco estreito e não-intelectual" é daqueles que
se recusam a dar o braço a torcer e reconhecer que as religiões
que eles sempre condenaram como irracionais estão muito melhor
fundamentadas do que o materialismo no qual se baseiam.

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